Dramaurgia inédita, autoral, universal (De Marcabrü Aiara)
Que as fadas tornem leves nosso fardo, Que possam nos benzer com seus orvalhos, Que
ornem nosso caminho desde o berço até a lápide, Que façam verter sobre esta terra seus
mantos de todas as cores e curas, Que suas asas nos arrebatem aos céus de nossas
divindades, Que seus lábios nos recitem a verdade, Que nos façam dançar mesmo sem
música sobre os vinhedos, Que brindem conosco à fartura de nossa mesa, Que
derramem o mel em êxtase na nossa ceia pagã, Que possam presidir em plenitude o leito
de amor da deusa imaculada onde cada devoto seu é convidado a se deitar.
Que as fadas nos acompanhem em zelo em nosso fardo e fado :
O fado é muito grande na minha alma, feito os mares todos do mundo, sem finito, e
minh'alma é rochedo e penhasco que o mar espanca, este fado que tanto mata, e sua
legião de afogados que ainda lhes encanta, e os pássaros em queda que não terminam
sua migração, e não lhes alcança divina graça, por isso há desgraça no canto, por isso é
divino este fado, por isso minh'alma é penhasco, à beira do mar, de um céu escuro
quando não havia os astros, à luz do fado.
E como se canta, encanta ou se desencanta à mercê do destino, esse déspota dos
caprichos, esse fato consumado feito fogo fátuo ?
A luz da sua alma nascendo do olhar sempre vence, e antecipa, a lápide fria do seu
pensamento.
Alma acesa feito estrela, o encanto do fogo épico, a perplexidade de um destino súbito,
uma intervenção de Deus na fragilidade humana.
Só escrevam versos se depois possam rezá - los.
Só escrevam estórias se antes possam vivê - las, ou nunca.
Porque também há um cantar para a fada da morte, no fado e nos fardos do mundo :
Estou sangrando, e que minhas vísceras caiam pelo chão e fertilizem esta terra, não é a
hora da medicina ou da cura mas a hora da morte, que minha alma abandone este corpo
que carreguei como armadura, pois muitas foram as batalhas desta vida, quiçá se
perpetrem no reino dos mortos, onde também há reis e rainhas de fausto e glória
fugazes.
Tolas são as lágrimas contra o destino e a verdade. A morte é o banquete da terra, e sua
severa opulência requer muitos corpos, muito sangue, muitas almas libertas, entre tantas
entretanto condenadas.
Que meu epitáfio seja na pedra, mas breve. Versos clássicos, em línguas estranhas.
Com estas palavras celebro com as fadas a morte, e neste momento sou todos os que
morrem para que se inicie mais um fado no coração do mundo. E que soem as guitarras
!
(De Marcabrü Aiara)
ornem nosso caminho desde o berço até a lápide, Que façam verter sobre esta terra seus
mantos de todas as cores e curas, Que suas asas nos arrebatem aos céus de nossas
divindades, Que seus lábios nos recitem a verdade, Que nos façam dançar mesmo sem
música sobre os vinhedos, Que brindem conosco à fartura de nossa mesa, Que
derramem o mel em êxtase na nossa ceia pagã, Que possam presidir em plenitude o leito
de amor da deusa imaculada onde cada devoto seu é convidado a se deitar.
Que as fadas nos acompanhem em zelo em nosso fardo e fado :
O fado é muito grande na minha alma, feito os mares todos do mundo, sem finito, e
minh'alma é rochedo e penhasco que o mar espanca, este fado que tanto mata, e sua
legião de afogados que ainda lhes encanta, e os pássaros em queda que não terminam
sua migração, e não lhes alcança divina graça, por isso há desgraça no canto, por isso é
divino este fado, por isso minh'alma é penhasco, à beira do mar, de um céu escuro
quando não havia os astros, à luz do fado.
E como se canta, encanta ou se desencanta à mercê do destino, esse déspota dos
caprichos, esse fato consumado feito fogo fátuo ?
A luz da sua alma nascendo do olhar sempre vence, e antecipa, a lápide fria do seu
pensamento.
Alma acesa feito estrela, o encanto do fogo épico, a perplexidade de um destino súbito,
uma intervenção de Deus na fragilidade humana.
Só escrevam versos se depois possam rezá - los.
Só escrevam estórias se antes possam vivê - las, ou nunca.
Porque também há um cantar para a fada da morte, no fado e nos fardos do mundo :
Estou sangrando, e que minhas vísceras caiam pelo chão e fertilizem esta terra, não é a
hora da medicina ou da cura mas a hora da morte, que minha alma abandone este corpo
que carreguei como armadura, pois muitas foram as batalhas desta vida, quiçá se
perpetrem no reino dos mortos, onde também há reis e rainhas de fausto e glória
fugazes.
Tolas são as lágrimas contra o destino e a verdade. A morte é o banquete da terra, e sua
severa opulência requer muitos corpos, muito sangue, muitas almas libertas, entre tantas
entretanto condenadas.
Que meu epitáfio seja na pedra, mas breve. Versos clássicos, em línguas estranhas.
Com estas palavras celebro com as fadas a morte, e neste momento sou todos os que
morrem para que se inicie mais um fado no coração do mundo. E que soem as guitarras
!
(De Marcabrü Aiara)
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