Dramaturgia inédita, autoral, universal e atemporal (de Marcabrü Aiara)

Os caminhos do céu são ensinados pelos pássaros, suas migrações e ancestralidades.
Não inventaram esses caminhos, porque são filhos dos ventos, e os caminhos do céu são
transmitidos de pai para filho, como num clã, em sucessão discipular. Os pássaros
portanto são filhos dos ventos, como os Ciganos, que conhecem os caminhos do céu,
como a palma de suas mãos, e seus andares nesta Terra são inspirados nos pássaros,
seus irmãos por parte de pai.
Mas não é uma estrada sem lei o céu, não é um campo intocado pelos arados, não é uma
terra virgem, uma folha em branco, um azul vazio e sem fundo, embora o céu não tenha
beirada mesmo.
O céu está riscado de cartas, mapas e caminhos, por onde as estrelas escrevem os
destinos nesta Terra. Pássaros voam como mensageiros, suas quedas são oráculos, assim
como suas fêmeas em parto. O céu não têm pegadas mas têm os ventos senhor de seus
caminhos, e a migração dos pássaros como tradição, como uma via sacra, o vôo de um
pássaro é feito um peregrino em busca de sua divindade. Um sudoeste entrando nas
margens costeiras levanta os mares, como um veredicto.
O céu não tem pegadas, mas tem a ancestralidade dos vôos, antes da humanidade
caminhar sobre a Terra. Tem o vento frio do norte, com seu inverno, sua morte severa e
lenta. O céu não tem pegadas, mas tem seus prenúncios de tempestades, suas nuvens
férteis de chuva, o céu também é seco acima dos desertos, e os pássaros não migram
aleatórios. O céu não tem pegadas, mas as aves imperiais têm os seus berçários, e seus
próprios cemitérios, e o falcoeiro sabe quando seu falcão não voltará do vôo.
O céu tem suas próprias pegadas para quem é do céu.

(De Marcabrü Aiara)

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