Dramaturgia (de Marcabrü Aiara)
Flor da Lua, Flor dos Becos
Mas o perfume da flor da lua é outro, só existe uma, só existe o seu cheiro de
donzela inebriando até o céu, uma única flor da lua inebriando todas as noites, uma única
flor seja lua negra ou lua de sangue, uma flor da lua para eu jardinar, uma flor da lua
para me tornar poeta, uma flor da lua para ornar a lápide dos amores póstumos.
Quando a noite está linda, a flor da lua deve estar ainda mais linda. Deve brilhar como
um clarão da lua, suas pétalas brancas. Deve iluminar minha noite feito duas luas, seus
olhos acesos.
Teu perfume chega sempre primeiro quando penso em você, teu sorriso está sempre nu,
sua voz é sempre uma canção, mesmo quando não a ouço, meu coração está louco, mas
nunca será pouco o que ele me conta quando se trata de ti.
Toda noite, tiro minha flor da lua do sereno, guardo no meu coração. Mas é noite apenas
para o corpo. Minha alma a contempla até de manhã.
E não são os desejos ardentes o húmus do sonho, e sua fertilidade seja pólen, cio de
bicho, deuses desposando mortais ?
Não nascem também os oceanos, as estrelas, e até os avatares ?
Beba então, do que desce dos céus para teu banquete.
É só para ti que se derramam esses Cântaros, para você se tornar quem nasceu para ser.
Bebe e prove do teu próprio amor, que é o mesmo, e o único que tu inspiras nos
homens, nos meninos, nos deuses e nos bichos.
Me tornei poeta para te saciar.
A flor dos becos é uma de suas alcunhas íntimas, são de suas entranhas profundas o
cheiro que invade os cantos escuros das ruas, e atiça sem pudor as gargalhadas de
zombaria e escárnio dos degradados, feito uma flor de cactus do agreste torto, uma
horda marginal das caatingas do cangaço, um sertão overdrive.
Flor da marginália, dama deselegante das esquinas, acolhe a vaidade dos machos
abandonados em sangue, suor e porra. Quais desejos implorados nas penumbras ainda
não realizou ?
São muitas as flores dos becos, é muito chão seco de sementes estéreis, de lágrima que
não se derrama, é muita carcaça pelo caminho, muita carniça feito banquete, muito
blush para nenhuma face corada de pudor.
O som do seu salto alto riscando a calçada da rua, deixando seu lastro de fêmea bruta.
Da cintura pra baixo sua reputação é outra, por baixo de sua roupa seu cheiro é outro, o
único que sinto quando você passa e não me olha mas é toda olhada, toda fértil molhada
na linguagem da procriação dos bichos, não desce do alto do seu salto nem quando fica
de quatro, orgulhosa dos próprios caprichos, suas alcunhas no baixo calão lhe
envaidecem. E provocam rivalidade nos desditos da madrugada.
Me livrei de uma ilusão como quem escarra, feito um corte profundo na própria ferida
para sangrar e escorrer o veneno, flechada de um cupido degenerado, vindo dos baixios
de meu próprio vício passional. Minha febre é de cura, meu silêncio é de morte.
(De Marcabrü Aiara)
Mas o perfume da flor da lua é outro, só existe uma, só existe o seu cheiro de
donzela inebriando até o céu, uma única flor da lua inebriando todas as noites, uma única
flor seja lua negra ou lua de sangue, uma flor da lua para eu jardinar, uma flor da lua
para me tornar poeta, uma flor da lua para ornar a lápide dos amores póstumos.
Quando a noite está linda, a flor da lua deve estar ainda mais linda. Deve brilhar como
um clarão da lua, suas pétalas brancas. Deve iluminar minha noite feito duas luas, seus
olhos acesos.
Teu perfume chega sempre primeiro quando penso em você, teu sorriso está sempre nu,
sua voz é sempre uma canção, mesmo quando não a ouço, meu coração está louco, mas
nunca será pouco o que ele me conta quando se trata de ti.
Toda noite, tiro minha flor da lua do sereno, guardo no meu coração. Mas é noite apenas
para o corpo. Minha alma a contempla até de manhã.
E não são os desejos ardentes o húmus do sonho, e sua fertilidade seja pólen, cio de
bicho, deuses desposando mortais ?
Não nascem também os oceanos, as estrelas, e até os avatares ?
Beba então, do que desce dos céus para teu banquete.
É só para ti que se derramam esses Cântaros, para você se tornar quem nasceu para ser.
Bebe e prove do teu próprio amor, que é o mesmo, e o único que tu inspiras nos
homens, nos meninos, nos deuses e nos bichos.
Me tornei poeta para te saciar.
A flor dos becos é uma de suas alcunhas íntimas, são de suas entranhas profundas o
cheiro que invade os cantos escuros das ruas, e atiça sem pudor as gargalhadas de
zombaria e escárnio dos degradados, feito uma flor de cactus do agreste torto, uma
horda marginal das caatingas do cangaço, um sertão overdrive.
Flor da marginália, dama deselegante das esquinas, acolhe a vaidade dos machos
abandonados em sangue, suor e porra. Quais desejos implorados nas penumbras ainda
não realizou ?
São muitas as flores dos becos, é muito chão seco de sementes estéreis, de lágrima que
não se derrama, é muita carcaça pelo caminho, muita carniça feito banquete, muito
blush para nenhuma face corada de pudor.
O som do seu salto alto riscando a calçada da rua, deixando seu lastro de fêmea bruta.
Da cintura pra baixo sua reputação é outra, por baixo de sua roupa seu cheiro é outro, o
único que sinto quando você passa e não me olha mas é toda olhada, toda fértil molhada
na linguagem da procriação dos bichos, não desce do alto do seu salto nem quando fica
de quatro, orgulhosa dos próprios caprichos, suas alcunhas no baixo calão lhe
envaidecem. E provocam rivalidade nos desditos da madrugada.
Me livrei de uma ilusão como quem escarra, feito um corte profundo na própria ferida
para sangrar e escorrer o veneno, flechada de um cupido degenerado, vindo dos baixios
de meu próprio vício passional. Minha febre é de cura, meu silêncio é de morte.
(De Marcabrü Aiara)
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