Dramaturgia de Marcabrü

Tanta coisa desnecessária, tua presença por todo esse tempo, por exemplo. Precisei eu
mesma ir embora. Todas as desculpas que a gente inventa, todas essas despesas do mês,
o que a gente gasta sem ter ganho, esse almoço sem apetite, essa comida sem gosto,
cada foda sem gozo, logo eu, que perdi o cabaço cedo.
Você não precisava fazer aquelas caras quando estava mentindo, não precisava de tanta
lábia pra me convencer, não precisava aquele jantar a luz de vela eu tava toda molhada
já, te querendo.
Desnecessário também perguntar quando já se sabe a resposta, eu nunca te pedi nada,
aquela guitarra encostada que você nunca toca, esse monte de livro que você nunca leu,
essa cara de otario que você tem, realmente não precisava. Nem daquele barbeador
elétrico. Olha, a lista é grande, eu tô só começando, senta que de hoje não passa. Eu tô
engasgada, não vou engolir essa porra não, vou cuspir dessa vez, e fora da escarradeira.
Não tinha necessidade disso, nem daquilo. Bastava o que você nunca me prometeu, tão
pouco pra realizar uma mulher, mesmo que pra sempre.

(Trecho de uma dramaturgia inédita de Maracbrü Aiara)